Auto-estima
“Amai o próximo como a ti mesmo“. Sábias palavras ditas por Ele, porém, quase sempre não são seguidas. Existem vários aspectos que contribuem para a diminuição da auto-estima. Vou enfocar um aspecto muito comum a essa situação relacionado à família.
O ser humano vê os seus filhos sempre como crianças, independente da idade que tenham. Para os pais os filhos nunca crescem e por isso, a proteção sobre eles se mantém por toda vida. Eles estão em primeiro lugar em tudo. Nem o casamento os desvincula dessa proteção, motivo de sobra para as rixas familiares. É normal e até justificável que os filhos tenham toda a atenção dos pais no período de sua dependência, mas passado esse período, há necessidade de “soltar as amarras” para que aprendam a viver. Só que os pais não reconhecem isso, pois para eles serão eternas crianças.
Essa proteção materna e paterna faz com que a auto-estima do casal diminua, pois têm que pensar primeiro nos filhos. Com isso, suas realizações vão sendo postergadas até que os filhos se formem, até que os filhos se casem, ou até que os netos nasçam. Com o nascimento dos netos o fato se repete. Eles também passam a ter prioridades em tudo e, com isso, os desejos e os sonhos dos avós vão ficando para trás. Durante toda a vida só pensam na realização dos filhos e netos. Na velhice, a depressão se instala motivada pela auto-estima baixa durante toda a vida. É lógico que o que nos distingue dos irracionais é esse zelo pelos nossos filhos, mas exageramos nesse doar por inteiro. O animal irracional só protege até uma certa idade, após isso os abandonam ao léu da sorte, pois seus instintos lhe “dizem” que é preciso lutar para viver. Porém, entre os racionais tudo deve ser pesado e medido.
Podemos zelar por nossos filhos porém sem esquecer de nós mesmos. Temos que nos amar em primeiro lugar e aprender a dividir e não apenas doar, pois “dois sacos vazios não param em pé”. Gostar de si não é ser narcisista e nem individualista, pois esses só pensam em si, mas aprender que, se estando bem consigo mesmo todos lucrarão com isso.
O príncipe Narciso, de onde adveio a palavra narcisista, se achava o mais belo de todos, se deslumbrava com sua beleza e sua vida girava somente em torno dela. Passava horas mirando-se e admirando-se no espelho. Essa sua valorização doentia não tinha nenhum propósito a não ser a admiração de si mesmo. Se achava o mais belo de todos. Ele não tinha uma auto-estima alta, tinha sim um idolatria de si mesmo. Uma pessoa pode ter uma alto-estima super valorizada sem se tornar um narcisista, pois não é a beleza que está em foco, mas sim a auto valorização de tudo aquilo que a pessoa possua realmente.
Auto-estima baixa é a negação, por si mesmo, de seus valores pessoais, motivada por depressão, perdas, apatia ou influência no julgamento de seus valores pessoais por terceiros. A auto-estima alta impede o surgimento do estresse, da tensão e contribui para que o otimismo esteja sempre presente e a ajuda à terceiros possa acontecer.
Esse comportamento familiar é repassado aos filhos. São gravados em suas mentes e seguidos à risca, dando continuidade a esse doar com prejuízo à si próprio. Mesmo antes de constituírem família, já abrem mão de direitos e realizações para o irmão menor, para os pais com situação financeira precária – o chamado “arrimo de família”. Quando um filho começa a pensar primeiro em si, as más línguas já o condenam; “filho desnaturado, só pensa em si”. Como se pensar em si fosse um sacrilégio!
Pensar em si é uma necessidade, pois somos únicos em tudo o universo. Não há um ser igual a cada um de nós. Não sabemos o tempo de nossa permanência nessa esfera, por isso, não devemos deixar para depois as nossas realizações e nossos sonhos para realizar os de terceiros. Vamos ajudar, apoiar, dividir, ensinar, compreender e até nos doar, mas sem que a nossa auto-estima seja abalada, pois ela é o nosso bem mais precioso.
Auto-estima alta é a valorização de si mesmo, por sua própria vontade, dentro de sua realidade, independente do que pensem à seu respeito. Não está ligada à beleza mas sim à auto-valorização. É vista e reconhecida por si mesmo. Por isso, uma pessoa pode não ser bonita e ter uma auto-estima alta. Pode-se ter auto-estima alta sendo deficiente físico, cego, surdo, mudo e até desempregado, pois sua valorização pessoal não está centrada nesses pontos, mas sim naqueles que realmente lhe distinguem e pelos quais se valoriza.
Para conseguir manter uma auto-estima alta, temos que nos dar o direito de viver, de ser feliz, de amar e ser amado, de realizar as nossas vontades e necessidades e de ter respeito a si próprio. Se assim o fizermos, seremos capazes de ajudar, caso contrário, seremos mais um a pedir ajuda.
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